Saiba mais sobre as Agarradeiras

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Agarradeiras recebem aprovação geral

(Por: Eduardo Garcia)

Desenvolvidas nos Estados Unidos na década de 40, com o intuito de melhorar o desempenho e o equilíbrio dos cavalos de corrida, as agarradeiras são ferraduras especiais que recentemente tiveram seu uso aprovado no turfe de Cidade Jardim.

Quando o cavalo toca com as mãos no chão, é natural e necessário que haja um pequeno deslizamento para a frente (isso em velocidade de corrida). Movimento esse que, se for impedido, provoca um impacto maior, que compromete tendões e ligamentos. Os posteriores, em contrapartida, vindos de trás, por sob a massa do cavalo, tocam o chão já com o movimento de impulsão iniciado. Nesse ponto, qualquer deslizamento para trás ocasiona perda de terreno e, conseqüentemente, de propulsão – se considerarmos uma perda de apenas meio centímetro por lance de galope e sabendo que na distância de 1.600 metros um cavalo dá aproximadamente 400 lances, a melhora conferida pelas agarradeiras é de cerca de um corpo – e, se esse deslizamento for na curva, ainda há o risco de um escorregão com sérias conseqüências.



Heckmaier, coordenador do Departamento de Assistência Veterinária do clube, comenta sobre a aprovação dos modelos ora em uso e, principalmente, sobre a questão da segurança: "Os escorregões, na partida, costumam provocar fraturas na cabeça do fêmur e, nas curvas, provocam fraturas de bacia ou de tíbia. Ainda é muito cedo para estabelecer uma estatística ou um parâmetro concreto, mas vale considerar que desde a implantação das agarradeiras até agora não houve um único acidente.

Se não fosse pelo fato de que nem todos estão correndo com esse equipamento, a conclusão seria ainda mais positiva". O veterano treinador Eduardo Gosik, foi um dos articuladores da idéia da volta das agarradeiras a Cidade Jardim: "Deveriam ter sido liberadas na época da reforma da raia de areia.

Os cavalos prontos de partida ‘se escapam’ na largada, o que pode dar distensão ou outro problema mais sério. No percurso, a estabilidade do cavalo é melhorada e, por conseqüência, rende mais com menos desgaste. Calculo uma vantagem de um corpo numa prova de 1.300 metros", diz.

O cavalo The Flash, sob a responsabilidade de Gosik, escorregou (se escapou) na partida e só não caiu por causa das agarradeiras. Ele lembra também que, no dia 4 de março (segunda reunião depois da liberação), os dois únicos cavalos com agarradeiras, venceram:

Top Reason e Don Gato, sendo que o primeiro tinha boa chance e o segundo, nem tanto.

Selmar Lobo, outro profissional bem-sucedido, também é um defensor nato do uso das agarradeiras: "O rendimento é bem melhor. O cavalo com essas ferraduras sempre terá superioridade sobre os que não usarem. Minha única dúvida, por enquanto, é no desempenho em pista encharcada, porque na seca ou pesada, ajuda muito".



O veterinário Antônio Luiz Cintra Pereira, ou ‘Tolú’, como é conhecido no Jockey, acha que as agarradeiras "estão se mostrando eficientes em qualquer tipo de terreno, e seu uso deve ser incentivado, pois realmente melhoram o desempenho dos animais". Para Tolú, que atua como supervisor de treinamento no CT Porto Feliz (SP), o único senão para o novo equipamento é o preço: "Isso impede que muitos treinadores, de recursos financeiros menores, possam comprar as ferraduras; e o ideal é que todos os cavalos usem, pois assim haverá um maior equilíbrio técnico das corridas".

Caio Flávio Stettiner, representante oficial da Thoro’Bred no Brasil, defende sua utilização em qualquer tipo de terreno, pela firmeza conseguida nas arrancadas violentas e nas curvas, onde o posicionamento ideal confirma ou invalida a chance do animal.

Carlos Gilberto de Oliveira é ferrador desde 1978. Já trabalhou com Ruy Peretto, Moreto e Nelson Magrini, todos veteranos do setor. Thignon Lafré, April Trip, Curitiba e outros campeões já foram ferrados por Gilberto. Atualmente, ele é responsável pelos ferros do tríplice coroado paulista Quari Bravo, do Haras Phillipson, e de Jack Grandi, do Stud Tevere, melhor corredor em pista de areia do país, que foi vendido para o turfe norte-americano. Jack Grandi usava agarradeiras quando quebrou o recorde para a distância no GP Bento Gonçalves – 2.400 metros em 2’28"5 – no final do ano passado, no hipódromo do Cristal, em Porto Alegre.

Segundo Carlos Gilberto, as agarradeiras são extremamente úteis em pistas compactadas, como a do Cristal, Tarumã, Palermo e La Plata, mas perdem um pouco da eficiência em raias com areia muito solta, como Cidade Jardim e Gávea.


Um corpo de vantagem vale R$ 25?

A questão do preço tem também uma interferência logística. As ferraduras da Thoro’Bred são feitas de uma liga de alumínio e titânio, o que lhes confere resistência suficiente para durarem 90 dias em vilas hípicas ou centros de treinamento onde não haja asfalto. Como os cascos crescem rapidamente, basta retirar os ferros a cada 30 dias, casquear e repregar a mesma ferradura.

No caso das agarradeiras, elas têm de ser colocadas na véspera da corrida e, no dia seguinte, retiradas novamente. Um jogo de agarradeiras custa US$ 17,55, ou pouco mais de R$ 30,00, ao câmbio do início de abril. Considerando que os ferradores cobram entre R$ 20,00 e R$ 30,00 por um serviço de ferrageamento, o custo para correr um cavalo duas vezes com o mesmo jogo de agarradeiras esbarra nos R$ 100,00.

Com as ferraduras feitas de perfil de alumínio, que custam R$ 4,00 o jogo e cuja duração é de, no máximo, 12 dias, o mesmo cavalo correrá duas vezes (nunca com a mesma ferradura) e o custo não será inferior a R$ 75,00. Cem reais menos R$ 75,00, igual a R$ 25,00. É quanto vale, hoje, um corpo de vantagem no turfe paulista.

O sistema nos EUA

Nos Estados Unidos, as agarradeiras são liberadas nas quatro patas para as duas pistas na maioria dos hipódromos. Como as decisões variam de lugar para lugar, os treinadores costumam perguntar qual é o sistema de determinado prado quando inscrevem seus cavalos. Fábio Nor, treinador brasileiro residente nos EUA há mais de 20 anos, que recentemente se transferiu da Califórnia para Kentucky, considera as agarradeiras um equipamento tão indispensável para o turfe como o próprio selim.

Lá, ninguém corre sem agarradeiras, ao menos nos posteriores. As ferraduras utilizadas para os anteriores são, obviamente, diferentes das dos posteriores. A lâmina é menor em função do movimento. As agarradeiras dos pés usadas nos hipódromos norte-americanos têm, inclusive, os saltinhos, que aqui são proibidos.

Para evitar o trauma de sucessivas ferragens, os treinadores costumam quebrar as partes salientes das agarradeiras logo após a corrida, o que as transforma em ferros normais e assim o cavalo trabalha até a próxima corrida, quando então, o ciclo se repete. Nos EUA, a relação entre o preço das agarradeiras e o prêmio é bem diferente da nossa, o que justifica serem usadas apenas uma vez.

FONTE: Revista Puro Sangue Inglês – Número 55 – Mar/Abr/1999 Editora Segmento Ltda